Um chamado de coragem pela paz

Juliana Dorigo – Nos primeiros dias de seu pontificado, o Papa Leão XIV ressoa um chamado que ecoa com força: “o tempo presente é de diálogo e de construção de pontes”. Um pedido que não é novo, mas que se renova com vigor e urgência.

“A paz esteja convosco.” (Jo 20,19)

Estas foram as primeiras palavras do Cristo Ressuscitado aos seus discípulos reunidos no medo. Não um cumprimento qualquer, mas a proclamação de um dom e de uma missão. A paz é, desde o início, um selo da presença de Jesus. Por isso, a Igreja vive em constante busca pela paz, pois sabe que, onde ela floresce, Deus habita.

O Pe. José Kentenich diz que “não é necessário que a boca profira palavras, mas se o fizer, que elas contem com a participação do coração e a confirmação da vida”. Ele cita Anna Katarina Emmerich (1774-1824) para nos ensinar que “quando o amor for o tom fundamental, elementar da alma em oração – o amor a Deus e ao próximo – tais atitudes afloram espontaneamente”.

O Diálogo como Caminho de Unidade

O Papa Francisco, sempre nos recordou a importância da cultura do encontro. “O diálogo é o caminho da paz” e “a construção de pontes é mais cristã do que levantar muros.” Em sua Encíclica Fratelli Tutti, afirmou com clareza:

“O diálogo perseverante e corajoso não anula as diferenças, mas permite olhar o outro como irmão.”

Antes dele, São João Paulo II já dizia que o diálogo “é um caminho privilegiado para o anúncio do Evangelho”, e Bento XVI, com sua clareza teológica, defendia que o verdadeiro diálogo nasce quando a verdade é buscada com amor.

A busca do diálogo em tempos difíceis

Hoje, Papa Leão XIV nos pede a coragem de na busca do diálogo e construindo pontes pela paz, pedindo à Igreja que não tema descer às estradas da humanidade, mesmo quando elas estejam feridas ou confusas. “Mesmo nestes tempos difíceis, marcados por conflitos e incompreensões, é necessário prosseguir com coragem este nosso precioso diálogo”.

“Estou convencido de que, se estivermos de acordo e livres de condicionamentos ideológicos e políticos, poderemos ser eficazes em dizer “não” à guerra e “sim” à paz, “não” à corrida ao armamento e “sim” ao desarmamento, “não” a uma economia que empobrece os povos e a Terra e “sim” ao desenvolvimento integral”.

As Pontes do Evangelho

Jesus foi, em si mesmo, a grande ponte entre o céu e a terra. Ao acolher pecadores, dialogar com samaritanos, tocar leprosos e conversar com mestres da Lei, Ele ensinou que o amor ultraa fronteiras e desarma corações.

Na Carta aos Efésios, lemos:

“Cristo é a nossa paz: do que era dividido, Ele fez uma unidade.” (Ef 2,14)

Somos, portanto, chamados a ser construtores de pontes onde houver abismos de preconceito, ignorância ou desconfiança. A Igreja não impõe: propõe. Não silencia: escuta. Não condena: acolhe e acompanha.

A visita da Mãe Peregrina: modelo de escuta e encontro

Neste caminho de construção, a Mãe Três Vezes irável nos acompanha como pedagoga da paz e da reconciliação. Em silêncio e acolhimento, ela nos ensina a ser presença que une, mãos que sustentam e corações que escutam.

Em sua missão, João Luiz Pozzobon foi um grande construtor de pontes e do diálogo, caminhando com a Mãe e Rainha mais de 140.00km ao encontro de famílias, hospitais, escolas e presídios rezando o terço.

Como em Caná, onde soube interceder antes mesmo que se pedisse, Maria nos inspira a ser sensíveis ao outro, atentos aos sinais, prontos para agir com amor. Em seu Santuário, aprendemos que a verdadeira força está na entrega. Maria nos educa a ser instrumentos de unidade. Verdadeiros missionários da esperança!

Um Tempo Novo, uma Missão Renovada

No início deste novo pontificado, sentimos que o Espírito sopra com esperança. O pedido do Papa Leão XIV não é um apelo político ou diplomático, mas um clamor que brota do coração de uma Igreja que quer se fazer próxima, samaritana e materna.

Como batizados, somos chamados a levar essa missão aos ambientes em que vivemos: na família, no trabalho, nas redes sociais e até mesmo nas discussões mais acaloradas. Não com armas de palavras duras, mas com a ternura da escuta e a firmeza da verdade em amor.

Em um mundo onde ainda conhecemos a dor da guerra, Leão XIV nos convida a olhar para Cristo com amor. “É a hora do amor! Olhem para Cristo e aproximem-se Dele” e nos faz um pedido. “Uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado.”

Que em cada atitude nossa, o mundo possa ouvir novamente a voz de Cristo ressuscitado:

“A paz esteja convosco.”

E que essa paz não seja apenas desejada, mas construída com pontes, com diálogo, com coragem cristã.

 

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Referências:

BENTO XVI, Papa. Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação dos votos natalícios. Vaticano, 22 dez. 2006. Disponível em: https://www.vatican.va. o em: 20 maio 2025.

FRANCISCO, Papa. Fratelli Tutti: sobre a fraternidade e a amizade social. Vaticano, 2020. Disponível em: https://www.vatican.va. o em: 20 maio 2025.

KENTENICH, José. Como é bonito rezar. Tradução de Irineu A. Trevisan. São Paulo, s.d.

LEÃO XIV, Papa. Santa Missa de Início do Pontificado. Vaticano, 18 mai. 2025. Disponível em: https://www.vaticannews.va. o em: 20 maio 2025.

LEÃO XIV, Papa. Encontro com representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais. Vaticano, 19 mai. 2025. Disponível em: https://www.vaticannews.va. o em: 20 maio 2025.

JOÃO PAULO II, Papa. Redemptoris Missio: sobre a permanente atualidade do mandato missionário. Vaticano, 1990. Disponível em: https://www.vatican.va. o em: 20 maio 2025